domingo, 30 de maio de 2010

Medo de altura



medo de altura:

medo de quem nunca voou
medo de quem não se encanta por avião
medo de quem não sobe escadas não
medo de quem tem os pés no chão
medo de quem não empina pipa não
medo de quem nunca soltou balão
medo de quem não beira lajes não
medo de quem teme até o sonho e a ilusão
pois é contra qualquer sensação
que signifique tirar os pés do chão.




[pequenos pequenas só assim me sinto mais próximo de vocês.
espero estar perto de falar a mesma língua, espero causar alguma alegria, mesmo que pequena.]



Fábio Pinheiro

sábado, 29 de maio de 2010

perto dos vinte e oito


perto dos vinte e oito sinto-me perto dos oito apenas na cabeça o carrinho estrela o chocolate top a  bola da vez a roupinha mauricinha manozinha réleszinha a menininha o menininho cadentes o pedido de estrela o terreno baldio. o córrego da vila o rio do livro o preto o branco da vida o colorido da tv do livro o verde das mangas roubadas o branco do sal o amarelo o vermelho da manga pouco comprada os insetos nos pés os bichos da imaginação as idéias pequenas do mundo grande as palavrinhas nunca faladas e então os palavrões da boca suja de café de pão chocolate molho de macarrão o sangue esparramado no chão os olhos guiados pela planície da tele visão a vida real a ficção o passado [de família gostos porradas sermões de escola espaços loiras de banheiro rejeições de polícia brinquedos balas repressões] e o  presente elencado de coisas da verdade de tudo que um dia foi e daqui a algum tempo continuará, talvez, sendo apenas ilusão.


[sei de que preciso
suspeito daquilo
que possa ser utopia
sei da ilusão sei do teor de
tudo o que me dá a emoção
sei logo sei da utopia
e então decido os passos
que dou na vida de cada chão.]


[poesia vaga
capturada no ar
de sábado
dia de expectativa
tarde de reflexão.]


[idade vai
ida de vai idade
vai idade. vaidade.]


Fábio Pinheiro


quinta-feira, 27 de maio de 2010


Um dos meus lugares preferidos tornou-se o menos frequentado; concluo que a vida nos dá, mas também nos toma tanta coisa importante; o tempo que temos se perde na burocracia das manhãs, das tardes, no cansaço das noites, na mudez das primeiras horas, na urgência de pela manhã de novo cansado partir. Lembrei da noite passada, cansado adormeci sem escutar nenhum chamado, acordei preguiçoso, guardei a máquina que comprei para junto comigo escrever outra história. Parece que ela de nada me serve, parece que eu de nada a sirvo, vivemos de pequenos encontros, poucas palavras e indiferença tamanha. Até parece aquele brinquedo, sonho de vida! Alegria avessa! Monotonia crescente!
Agora as palavras me faltam, então rio! Bebo! Durmo como se dormir fosse a única coisa pra se fazer! Enquanto durmo, tantos beijos enfeitam as ruas, tantos corpos se enroscam em lençóis de qualquer ar, tantas risadas validam a vida sem graça, tanta gente lança mão da vida sem medida alguma, arriscam! Enquanto eu apenas a sigo à risca!

De volta ao jardim, vejo abandono, flor seca; meu tempo de novo curto e minha poesia perdida ...
... quem sabe numa dessas suas mãos, também perdidas, a tem. quem sabe com ela você não vem. quem sabe... quem sabe, quem sabe. quem sabe?



Fábio Pinheiro 

sábado, 8 de maio de 2010

Para sempre












Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.


Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
 
Carlos Drummond de Andrade

(1902-1988)

devaneios


soltamos a voz
e todo pensamento avesso
ao que há de mais íntimo em cada eu
a mágoa desponta
e enquanto dura a dor
a voz calamos


além de nós – logo ali – está o amor
será lá o horizonte?


... e ela lança sobre minha face um véu
esconde-a
como num ato de negação do meu próprio "eu"
eu a desvelo sem respostas ...











domingo, 2 de maio de 2010



















tudo que agora escrevo
escrevo ciente de que
nesse momento
a cama me espera
as horas de agora me abandonam
e não demora muito
me entregam às mãos de um ganhar pão duro

eu o amacio
na saliva
e no pensamento ... 
no pensamento eu adoço
todo alimento de vida amarga

será isso a paciência da espera
a conformidade do pouco querer
ou um agir malandro?